Inovação atravessa todas as nuances do ser humano

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Ainda hoje, em 2025, muitas pessoas e empresas acreditam que inovar está em desenvolver ou adotar a tecnologia mais disruptiva do mercado. Porém, a inovação vai muito além e perpassa diversas particularidades do ser humano: vulnerabilidade, escuta ativa, curiosidade, empatia, provocação, indignação, vontade de transformar a realidade, entre outros sentimentos e atitudes.

Isso ficou evidente no painel “Como fomentar a inovação no ambiente corporativo” realizado no SAS Women Empowerment Day 2025. Para as painelistas, executivas de grandes companhias, a curiosidade e a inquietude estão entre os principais motores da inovação – juntamente com a diversidade. Porém, não é uma atitude individual – é necessária uma cultura forte que propicie a experimentação para que as provocações deixem de ser apenas reflexões e virem mudanças concretas.

Confira abaixo um pouco dessa discussão, regada a muita vulnerabilidade e trocas de coração aberto.

Como fomentar a inovação nas empresas

Inovação: um caminho caótico e tortuoso

Marcela de Masi, diretora executiva de Branding e Comunicação das marcas do Grupo Boticário, na empresa há 12 anos, acredita que a habilidade de questionar a realidade é importante, mas fazer algo potente que gere, de fato, um produto ou um resultado efetivo, é fundamental. Essa é a visão que perpassa todo o Grupo Boticário, que não tem uma área de inovação, mas sim uma cultura de inovação.

“A gente tem como essência a inquietude. Ela é um valor para nós e uma palavra que a gente repete em todas as camadas. Da mesma forma que a gente coloca excelência na execução, a gente coloca inquietude como um pilar cultural. E aí, qualquer pessoa tem o papel ou a missão de questionar alguma coisa que a gente está fazendo, trazer uma ideia, propor um novo ponto de vista. E, desta forma, a gente cria um ambiente em que a cultura fomenta a inovação, o líder “apenas” faz a facilitação para que isso seja viável.”

Foi essa cultura, que tem a inquietude como um pilar, que propiciou o surgimento de produtos como o primeiro pincel articulado acessível do mundo, que pode ser usado por todas as pessoas independentemente da necessidade motora delas, ou o batom inteligente, que ganhou um prêmio no SXSW deste ano, e reconhece a diferença da pele do rosto e do lábio para uma aplicação perfeita do batom em pessoas que tem baixa visão.

Além de análises de comportamento e tendências de mercado, essas inovações têm em comum muita escuta ativa de consumidores e funcionários, além de questionamentos como: “o que a gente pode fazer em relação a isso? Que valor eu gero para a empresa, para as nossas marcas e para a sociedade?”.

“É com perguntas como essas que que a gente vai para o caminho da inovação. E essa é uma trilha que não é óbvia. Se você souber o final, já não está inovando. Você sabe o problema e o que você vai fazer para chegar na resposta é o caminho, às vezes, meio caótico e tortuoso.”

Inovar é uma atitude individual ou coletiva?

Duda Davidovic, Head de Design e Inovação no Cartão Elo, comentou que durante muito tempo, pensava-se que a inovação era uma qualificação de pessoas com muita criatividade. No entanto, para ela, inovar está na simplicidade, em resolver os problemas de uma maneira simples para os clientes.

“Quando eu trago isso para a minha realidade de pagamentos, é quase que desmaterializar o cartão de plástico que vocês têm na bolsa. Se formos levar esse olhar para todas as indústrias, vemos um cenário muito parecido: como tirar essa fricção, essas dores, esses problemas do dia a dia de um cliente? Por isso, acredito que qualquer um, com um pouco de curiosidade e empatia, pode fazer isso no dia a dia”.

E complementa, trazendo à tona a importância de fazer perguntas, principalmente em uma sociedade que ensina as crianças a decorar e repetir as respostas apresentadas. “O valor das perguntas, para mim, é muito maior do que o das respostas, pois é aí que a gente estimula o pensamento. Por isso, é importante, deixar o nosso ego de lado [tendemos a querer saber de tudo] e nos colocarmos num lugar de vulnerabilidade.”

Como fomentar a inovação nas empresasDa esquerda para a direita, Marcela de Masi, diretora de Comunicação e Branding do Grupo Boticário, Suellen Rodrigues, diretora de pesquisa cientifícida da MSD para América Latina, e Duda Davidovic, Head de Inovação e Design de Produto no Cartão Elo

Visão compartilhada por Suellen Rodrigues, diretora de pesquisa científica da MSD para América Latina. Para ela, o questionamento é a base da inovação, principalmente em uma área regulada como a farmacêutica - mas não só nesse setor. E relembra a todas as mulheres presentes na plateia que “a inquietude também é natural nossa”, embora muitas vezes não nos percebam nesse lugar e alguns profissionais ainda tenham a visão de que mulher que questiona muito é "reclamona".

“[Então], para que a gente não seja silenciada, é importante sempre trazer proposições. Se você discorda, você vai discordar e colocar o seu ponto, ou fazer as perguntas que vão complementar e valorizar essas ideias. Ser propositiva e não se deixar para depois, independe de você ser extrovertida ou introvertida, é muito mais o lugar de se preparar para trazer proposições”.

Marcela complementa trazendo uma dica importante: “eu sempre entro numa sala com algumas perspectivas e tento trazê-las para a mesa, porém, é importante dar segurança para as pessoas que estamos naquela agenda para fazer com que algo seja o melhor que ele pode ser - não para ser acusatória, questionar o pensamento ou competência de alguém”.

No entanto, ao longo da conversa, ficou claro que inovar não depende apenas das pessoas – é fundamental que as lideranças das empresas deem espaço para isso acontecer. Além disso, é necessária uma clareza de propósito em todos os níveis: todos os funcionários precisam saber qual o futuro que a empresa deseja alcançar.

É na diversidade do diálogo que a inovação aparece!

Além de um ambiente propício, pessoas com vontade de transformar realidades e clareza de propósito, existe outro “ingrediente” fundamental para a inovação: a diversidade. E, embora recentemente algumas empresas tenham reduzido suas iniciativas relacionadas a ela, as painelistas, assim como o SAS, acreditam que as empresas que vão ser de fato vencedoras, são aquelas que já entenderam e vão continuar entendendo que diversidade é fundamental para inovação!

“A conversa da diversidade faz, sim, toda a diferença! É ela que faz com que uma discussão sobre um lançamento de shampoo, se torne um projeto de lei que transforma a maneira como muitas pessoas se sentem”, comenta Marcela, fazendo referência ao projeto de Capelos criado pelo Grupo Boticário para formandos com cabelos trançados, cacheados e black power que incentivou uma lei em Salvador.

E isso vale tanto para o desenvolvimento de novos produtos e serviços, quanto para o público interno. O Grupo Boticário, por exemplo, entendeu que para fomentar a equidade de gênero dentro da empresa precisava tornar a licença parental obrigatória, pois só assim, os seus funcionários homens entenderiam a sensação de voltar depois de quatro meses de licença sem saber se o seu lugar estará lá te esperando.

Duda vai além e aborda o impacto financeiro da diversidade para as empresas. “Eu lidero uma área de design e costumo dizer que está bem de criar carteira digital e produto para quem trabalha na Faria Lima. Precisamos criar para o Brasil, para o brasileiro, com muitas culturas, muitas realidades socioeconômicas diferentes, com pessoas que não tem acesso à internet.”

E, como diversidade e resultado financeiro estão conectados, eles não devem ser tratados de maneiras diferentes. Por isso, a Elo tem metas de representatividade de pessoas pretas e pardas, LGBTQIAP+ e mulheres que representam 5% do peso da nota da companhia para recebimento ou não da PLR.

Quer inovar e não sabe como começar?

Reunimos abaixo as dicas das palestrantes para que você possa começar a fomentar hoje mesmo um ambiente que incentiva e provoca a inovação, afinal, sem discordância, só consenso, não tem inovação potente! 

- O óbvio precisa ser dito! O óbvio precisa ser perguntando. O óbvio precisa ser proposto. Às vezes, é importante resgatar coisas simples no dia a dia, pois uma simples ideia pode destravar uma cascata positiva de reflexões que vão acelerar processos e entregas.

- Seja exemplo! Crie um ambiente de confiança e escuta em que as pessoas não tenham medo de falar nem de serem julgadas. Deixe claro que você quer que elas verbalizem ideias e reforce que você quer ouvi-las! E, se você está em uma posição de liderança, quando for ouvir o time dar ideias, não emita opiniões, validações ou corte a conversa. Só absorva! Escute e mostre que você está disposto, de fato, a ouvir as considerações, pois elas farão toda a diferença.

- Façam sessões post-mortem de projetos. Ao analisar tudo o que deu errado em um projeto, pensar em tudo que aprendemos e que faríamos diferente, conseguimos elucidar melhorias para os próximos e materializar um pouco a inovação. E, com bastante escuta ativa, aos poucos vamos criando a confiança necessária para um ambiente seguro de trocas.

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Maíra Porto

Content Marketing Specialist

Jornalista e mãe do Miguel e da Catarina. Há mais de 15 anos, Maíra atua em comunicação corporativa, principalmente no setor de tecnologia, tendo contribuído com a construção e a reputação de startups e grandes companhias nacionais e multinacionais. Atualmente, integra o time de marketing do SAS Brasil.

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