Vivemos num mundo cada vez mais digital e trabalhamos, igualmente, em organizações cada vez mais digitais. Isto traduz-se em inúmeras mais-valias que culminam em processos mais rápidos, eficazes e assertivos (e que facilitam efetivamente o dia-a-dia dos colaboradores), mas a verdade é que também coloca as organizações num grau de exposição bastante mais elevado.
E isto aplica-se aos mais variados setores, desde a indústria, banca, telecomunicações, energia, saúde, seguros, entre tantos outros.
Todavia, centremo-nos no setor da banca e no papel que a tecnologia tem no combate à fraude, já que foi à volta deste tema que decorreu a conversa com António Félix, Compliance Director, Information Systems & Analytics do Millennium bcp.
A forma como as instituições gerem os riscos associados aos crimes financeiros foi o primeiro ponto abordado. Segundo António Félix, trata-se de um tema que tem ganho preponderância nestes últimos anos e é efetivamente um tema central da sociedade, devendo todos os cidadãos ajudar a combater este problema. Há, no entanto, evidentemente uma responsabilidade acrescida para a indústria financeira, que tem de zelar pelos bens e bem-estar dos seus clientes, dando-lhes a garantia de que os seus ativos estão seguros e a ser constantemente monitorizados, de forma a evitar ações indevidas.
Sobre este tema, António Félix refere ainda que se tem assistido a uma grande evolução nas tecnologias e meios que as organizações usam para combater esta temática, realçando o desafio acrescido que estas tecnologias têm relacionado com as exigências regulatórias.
Tecnologia para parar a atividade fraudulenta em tempo real
Na verdade, sempre existiu fraude e sempre existiu a aplicação de tecnologias ao sistema bancário. O que aconteceu, entretanto, é que com o aparecimento de novos players, como o SAS - que vieram juntar a componente analítica aos mecanismos tradicionais da deteção destes fenómenos e comportamentos – o mercado tem agora disponível soluções com a capacidade de detetar, em tempo real, qualquer tipo de anomalia e, assim, poder antecipar aquilo que são os novos movimentos e tendências/tipologias de fraude e branqueamento de capitais.
Uma vez mais os dados são um tema cada vez mais fulcral e central nesta equação, que pela sua qualidade e diversidade dos seus atributos, permitem ter modelos cada vez mais assertivos e uma capacidade preditiva francamente melhor daquela que tínhamos há uns anos atrás, defende António Félix.
O papel das tecnologias foi referido como algo fulcral e central, sendo certo que a digitalização completa dos serviços financeiros e a própria realidade mudou muito. Se antigamente era impensável por exemplo fazer-se transações para o estrangeiro, hoje é prática comum graças aos inúmeros canais existentes que vieram facilitar o nosso dia-a-dia, mas lá está, com o desafio acrescido da questão da segurança.
António Félix fala de ferramentas como o Machine Learning ou a Inteligência Artificial que passaram a ser componentes que fazem parte dos sistemas, contribuindo para aumentar a segmentação dos clientes, analisar comportamentos padrão, identificar movimentos suspeitos ou mesmo falhas.
Outro tema falado foi o da Literacia. António Félix refere que os canais utilizados estão a mudar com grande rapidez, a digitalização está a avançar de forma rápida e irreversível. E aqui alerta para o facto de a literacia ser muito importante para os próprios utilizadores, relembrando que as instituições devem assumir o papel de comunicar e divulgar, junto dos seus clientes, os cuidados que devem ter na utilização dos diversos canais.
Em suma, o grande desafio passa por conseguir reunir os meios e tecnologias capazes de detetar, de forma imediata, padrões suspeitos e parar transações fraudulentas, garantindo irrepreensivelmente a segurança dos dados e outros ativos dos clientes.
Entrevista realizada por Carla Miranda, especialista em soluções de combate à fraude do SAS Portugal.