Como consumidor dou por garantido o facto de que a minha marca de “sumo de cevada” preferida se encontra, constantemente, na prateleira intermédia do último corredor do supermercado local, seja qual for o dia da semana. Esqueço-me, por vezes, que para que tal seja possível foi necessário que há seis meses atrás alguma entidade dotada de uma bola de cristal soubesse que, precisamente naquele dia, iria-me dirigir àquela mesma prateleira.
Essa mesma entidade decidiu então comprar as matérias-primas e componentes necessários, produzir a quantidade exata da minha satisfação e até fizeram questão de me reservar, num armazém local, 15 exemplares antes destes partirem na sua roadtrip. No entretanto, até acabei por ser inundado por tentações digitais, jingles viciantes e pelo suor nos equipamentos dos meus atletas preferidos. Tudo isto para chegar no dia e até ter um “descontozinho”, de forma a garantir que mais nada naquele dia irá saciar a minha sede!Ao sair desta utopia, é percetível que não existem bolas de cristal e que a chamada Supply Chain nem sempre se encontra tão interligada assim. Desde a área comercial promover ações promocionais junto dos clientes finais, às comunicações isoladas do marketing, ao demand planning a dar o seu próprio input sobre as quantidades necessárias a produzir e a fábrica a querer otimizar os turnos de produção. A falta de comunicação e interligação entre cada um dos elos da Supply Chain faz com que nenhum entenda realmente o que os outros fazem e/ou precisam. São inúmeros dados para processar, vários parceiros de negócio, diferentes processos e circuitos para controlar… e a verdade é que se toda esta informação (oriunda de diversos canais) não estiver uniformizada acabará por se dispersar, acabando inevitavelmente por afetar a eficiência e performance do negócio.
Tendo tudo isto em conta, o mais importante é que as desejadas grades na realidade estão na tal prateleira. Mas a que custo?
Do plano de produção feito pela equipa de planeamento à fábrica, que a fim de otimizar os turnos de produção produz mais 1/3 do que o plano dizia. Esse 1/3 afinal nem cabe nos armazéns locais pelo que têm que recorrer aos armazéns alugados devido às políticas de níveis de inventário de segurança. Como a área de planeamento se preocupa mais com a quantidade de produto a ser produzida (que na maior parte das vezes não tem mais do que 60% de precisão) do que a sua finalidade (off-trade, on-trade ou exportação) a distribuição por canal acaba por não ser a mais eficaz. No final de todo este processo, existe constantemente produto em final de vida que é desperdiçado.
Desafios como:
- Excesso de produção;
- Excesso de inventário;
- Distribuição errada por canal;
- Produto desperdiçado;
São o derradeiro custo de manter a disponibilidade e frescura necessária para satisfazer os clientes finais.
A boa notícia é que é possível alavancar a Supply Chain, de forma a garantir uma vantagem competitiva face à concorrência. Com o advento da digitalização da Supply Chain, a integração das diferentes áreas na mesma plataforma e tecnologias como Machine Learning e Advanced Analytics que, de forma prescritiva, nos mostram qual o melhor caminho a seguir. Assim, passamos a ter uma equipa de Demand Planning capaz de relacionar eventos, informação dos preços de concorrência e mesmo condições climatéricas nas suas previsões, fazendo com que toda a cadeia de valor tenha com ponto de partida a estimativa certa de procura.
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Assim, o aprovisionamento de matérias-primas pode ter em conta as expectativas de aumento ou redução de preços e as necessidades futuras de produção. Por sua vez, a constante comunicação e transparência entre os níveis de stock e a previsão de vendas leva à redução dos níveis de inventários de segurança necessários para garantir a satisfação do cliente final. Com o foco no consumo e na procura ao nível hierárquico mais baixo, a distribuição por canal também seria mais assertiva. Fundamentalmente começar com um número mais correto irá, inevitavelmente, levar-nos a uma redução drástica da quantidade de produto destruído anualmente!
No final, a bola de cristal e o desejo de atravessar o espaço-tempo contínua inatingível, mas felizmente está nas nossas mãos utilizar o astrolábio para nos guiarmos pelas estrelas!
Diogo Lourenço
Industry Lead for Manufacturing, SAS
**Este artigo foi originalmente publicado na Revista Indústria, Nº119.
1 Comment
Muito bom o artigo.
A perspetiva do consumidor final é crucial para conseguir explicar o alcance daquilo que fazemos.
Este artigo revela isso mesmo!
Muitos parabéns
Abraço