O que se ganha quando se combina amor, matemática e inteligência artificial?

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Amor e matemática. Quase não se consegue imaginar dois mundos mais afastados. No entanto Hannah Fry provou que as matemáticas podem descobrir o segredo de um relacionamento bem-sucedido e prever um divórcio. Conversámos com a professora da UCL e perguntámos sobre a relação que os humanos têm com as novas tecnologias como a Inteligência Artificial (IA) e como pode impactar a sociedade.

É cada vez mais fácil descobrir padrões e saber o porquê do comportamento humano. Novas tecnologias, como machine learning, tornaram as previsões muito mais possíveis e acessíveis. Na verdade, vejo pessoas a tentar prever o comportamento humano em todos os contextos. Por exemplo, os EUA estão a usar a análise preditiva para determinar se um juiz deve definir a caução/fiança para um suspeito.

Entrevista com a matemática e conferencista da UCL Hannah Fry

Humanos versus algoritmos

Hannah Fry acredita que, embora a tecnologia disponibilize oportunidades infinitas, algumas coisas devem ser deixadas à decisão e julgamento dos humanos: “A discussão que deveríamos ter na sociedade é até que ponto permitimos que os algoritmos determinem o que devemos decidir ou fazer? Queremos deixar o nosso futuro nas mãos de algoritmos? Esta é a questão realmente importante dado que nunca seremos capazes de prever algo com uma certeza a 100%”.

Também é uma pergunta que não pode ser respondida com um simples sim ou não. Deve ser julgada caso a caso e com base no seu impacto nos seres humanos. “Vejam este exemplo na China, onde é usado o reconhecimento facial para impedir que as pessoas usem muito papel higiénico. O dispensador disponibiliza 60 polegadas (152,4 centímetros) de papel para cada pessoa. Se notar que a mesma pessoa demora mais do que nove minutos o sistema trava o dispensador. Não é um grande problema se o sistema falhar de vez em quando. No entanto, na área da saúde uma decisão errada pode ser uma questão de vida ou morte. Pode o algoritmo prever, com 100% de certeza, que esse tumor degenerará em cancro? E o que fará quando o algoritmo errar e, com base nisso, sugerir o tratamento errado para o paciente? Estas são as questões que necessitam de uma consideração cuidadosa.”

Namorar com a Inteligência Artificial

Como Hannah Fry é também autora do livro “The Mathematics of Love” estávamos curiosos para saber se, e como a AI afectará o namoro. “Há muito tempo que se tenta descobrir porque as pessoas gostam umas das outras. E, realmente, não há dados reais ou técnicas para prever isso. Mas torna-se um pouco mais fácil se as pessoas realmente se virem e se se poder analisar a forma como respondem umas às outras. Um cientista de dados nos EUA aplicou técnicas de machine learning a sessões de speed dating feitas através do Skype. Com base nas expressões faciais ele previu a compatibilidade dos casais. Este é um bom começo (interessante) mas acredito que o namoro on-line tornar-se-á cada vez mais inteligente”.

A Inteligência Artificial substituirá o meu emprego?

A IA não gera apenas vibrações positivas, mas também provoca algum medo. As pessoas estão preocupadas com o facto de a Inteligência Artificial poder assumir os seus empregos. Sobre isso Hannah Fry afirma que: “claro que haverão algumas profissões que, daqui a 10 anos, já não existam. Mas as pessoas estão a subestimar o valor do toque humano. Os assistentes sociais nunca poderão ser totalmente substituídos e o jornalismo de investigação é, também, um bom exemplo. O output da IA é baseado em informações e dados que já existem pelo que não gerará uma história de fundo verdadeiramente original sobre o Brexit ou sobre as eleições. Na verdade, fui a um musical que foi escrito através da tecnologia de IA. Deu-me a sensação de que já o tinha visto e que conhecia a história. Isso porque foi baseado em factores de sucesso de musicais existentes.”

Hannah Fry está convencida que as pessoas tendem a super-estimar a influência da tecnologia a curto prazo e a subestima-la a longo prazo. “Os carros sem condutor são um bom exemplo. Estes só funcionariam num ambiente fechado, caso contrário, seriam confrontados com carros dirigidos por humanos. E, como todos sabemos, os condutores humanos são imprevisíveis. A tecnologia ainda não consegue lidar com isso. Ou teríamos de ter a certeza de que todo o mundo teria de ter, ao mesmo  tempo, um veículo sem condutor. Não há um período de transição possível, por isso, antes que possamos realmente aproveitar esta inovação, em grande escala, as pessoas precisam, primeiro, de pensar numa solução para isto.”

Se está tão intrigado com a Hannah Fry como nós, fique atento ao seu novo livro. “Hello world” que será publicado em setembro deste ano. O livro descreve como os algoritmos se estão a infiltrar em todos os aspectos da nossa vida. Além disso, ela fala sobre a questão de onde traçar a linha entre a desordem humana e a previsibilidade confortável de um mundo orientado por dados.

 


Hannah Fry
Lecturer in the Mathematics of Cities at the
Centre for Advanced Spatial Analysis at UCL

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Business Analytics Portugal

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